Todos os ventos sopram a
favor da disseminação de uma epidemia de obesidade de consequências trágicas.
Senão vejamos:
1) Ganhar peso é bom para a
agropecuária.
Vivemos uma revolução
tecnológica sem precedentes na história da agricultura. A modernização das
técnicas de plantio, da infraestrutura de transporte e de armazenamento
aumentou a produtividade, reduziu o desperdício e fez cair os preços. Jamais a
população brasileira experimentou tamanha fartura ou teve acesso a tantos
alimentos de qualidade.
Quanto perderia a
agropecuária se a população selecionasse com mais critério e reduzisse a
quantidade de alimentos consumidos?
2) Ganhar peso é bom para a
atividade industrial.
A tecnologia levou à produção
em massa de biscoitos, refrigerantes, queijos, embutidos, sorvetes, pães, doces
e chocolates que superlotam as estantes dos supermercados. Existe vendinha no
lugarejo mais remoto, em que não seja possível encontrar refrigerantes e
pacotes de salgadinho?
Atenta à progressão da
epidemia a indústria alimentícia investiu pesado nos alimentos e refrigerantes
“light”. Quem os consumiria se todos fossem magros?
No passado, as mulheres
cozinhavam e as refeições aconteciam em casa. Hoje, quem pode ter esse
privilégio? As refeições são feitas em bares, restaurantes “por quilo”,
lanchonetes e cadeias de “fast food”. Quantos ficariam desempregados se os
brasileiros adotassem dietas mais frugais?
A indústria que produz
medicamentos para diabetes, hipertensão, doenças cardiológicas e as três ou
quatro drogas indicadas para combater (sofrivelmente) a obesidade, ganharia se
as pessoas comessem menos e fizessem mais exercício?
Os fabricantes de
televisores, automóveis, escadas rolantes, computadores, jogos eletrônicos
quanto perderiam se crianças e adultos abandonassem a vida sedentária?
3) Ganhar peso é bom para a
publicidade e os meio de comunicação.
As campanhas publicitárias de
alimentos industrializados movimentam bilhões. Vivemos bombardeados por
comerciais de cervejas, refrigerantes e de alimentos que nada mais são do que
gorduras e carboidratos empacotados em embalagens atraentes.
Quando um fabricante anuncia
um novo salgadinho em forma de elefante, sabe que a criança pedirá aos pais
para comprar exatamente aquele. Que produtor investiria para exaltar as
vantagens da laranja em vez da torta de chocolate na sobremesa, sem nenhuma
segurança de que o consumidor compraria a laranja produzida por ele?
Sinceramente, não consigo
pensar num único setor importante da economia que se beneficiasse com o combate
às forças que incentivam a obesidade.
4) A medicina pouco pode
ajudar.
Descontada a possibilidade de
receitar os três ou quatro medicamentos citados, limitamo-nos a recomendar ao
obeso o que ele está farto de saber: “Coma menos e ande mais”. Convenhamos,
leitor, é tão ridículo quanto dizer ao alcoólatra para beber com moderação. Se
o gordo conseguisse ser mais ativo fisicamente e parcimonioso à mesa, não
estaria diante do médico pedindo ajuda para emagrecer.
Quanto mais estudamos os genes,
os mediadores hormonais e os neurotransmissores envolvidos nos mecanismos de
fome e saciedade, mais complexos e interligados eles revelam ser, maior nossa
dificuldade em compreendê-los e de interferir com eles.
É pouco provável que surja um
remédio eficaz indicado para todos os casos. O tratamento da obesidade exigirá
o emprego de múltiplas drogas administradas por longos períodos ou pela vida
inteira, eventualmente.
5) Perder peso é lutar contra
a natureza humana.
Assim que o cérebro detecta
diminuição dos depósitos de gordura, a energia que o corpo gasta para exercer
suas funções básicas em repouso (metabolismo basal) cai dramaticamente, ao
mesmo tempo em que são enviadas mensagens bioquímicas irresistíveis para irmos
atrás de alimentos.
Infelizmente, quando ocorre
aumento de peso os sinais opostos são quase imperceptíveis: não há aumento
substancial da energia gasta em repouso, a fome não diminui nem surge estímulo
para aumentar a atividade física.
O corpo humano tende a
defender o peso mais alto que já atingiu. O organismo protege as reservas de
gordura mesmo quando estocadas em quantidades excessivas. A mais insignificante
tentativa de reduzi-las é interpretada pelo cérebro como ameaça à integridade
física.
É ignorância imaginar que
emagrecer seja simples questão de força de vontade.
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